quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Nossa viagem

Saímos de São Paulo num dia nublado carregados de expectativas. Seriam 21 dias de viagem, nossa primeira no velho mundo. Eu me sentia praticamente uma caroneira. Peguei carona no Italiano, no Espanhol, no roteiro, nas anotações e nos mapas que o meu gatinho estudou durante meses para garantir o sucesso daqueles dias de outubro que ficarão registrados para sempre em nossas memórias. Não fosse pela organização do meu marido, não teríamos aproveitado tanto, não teríamos nos movimentado tão facilmente por todas aquelas estações de metrô e trem, ruas e monumentos, restaurantes e aeroportos. Fomos sozinhos, num roteiro exclusivo, traçado pelo Amberson. A única mudança que faremos na próxima viagem é cortar a terceira mala. A experiência acumulada em três semanas na Europa nos mostrou que com duas malas e duas mochilas um casal carrega o suficiente para conhecer o mundo.
Após as 12 horas de travessia do oceano, ainda muitas outras horas de aeroporto seriam necessárias para chegarmos ao nosso primeiro destino: Barcelona. O aeroporto de Barahas, em Madri, é imenso, lindo e moderno. Há um trem ligando os terminais nacional e internacional, e para cada letra do portão de embarque há 74 números. Então você, por exemplo percorre centenas de metros para chegar ao portão T 74. Há esteiras e escadas rolantes por todo lado e funcionários uniformizados prestando informação, mas isso não impede que pessoas se percam, como aconteceu conosco no primeiro dia. Lá encontramos uma brasileira chorando, sem entender que o funcionário de informações lhe pedia - voltar ao guichê mais tarde pois ainda não estava definido o horário do embarque do seu vôo. Ela ficou radiante quando traduzimos pra ela a explicação, estava muito nervosa por não conseguir ler, nem entender nada a sua volta. Ia visitar a filha em Veneza que estava para ganhar neném. Incrível o que pode fazer um outro idioma: faz com que pessoas iguais tornem-se totalmente diferentes e distantes, enquanto algumas palavras, por mais soltas que sejam, podem permitir o entendimento e a ajuda. É o milagre que só o conhecimento de um outro idioma permite. Por isso foi tão importante, útil, quase mágico que o gatinho falasse espanhol e italiano.

Barcelona
Dia 01/10/2007
Acabamos de voltar do jantar no Babilônia. Hoje foi praticamente nosso primeiro dia em Barcelona. Ontem só deu para levar um enorme susto com a Sagrada Família, catedral da cidade e saborear um delicioso jantar no Tapes Gaudi. Comemos Tapa Marinara, pra nós, Lula a milaneza e paella de Bacalhau. O simpático garçom colombiano acertou quando disse que a comida seria boa. Na verdade estava ótima: camarões suculentos, tempero no ponto, regados com uma típica sangria espanhola.
Neste primeiro dia andamos muito mesmo e pegamos muitas vezes o metrô. Gastamos um cartão com 10 passagens, comprado numa máquina automática. As Ramblas são lindas cheias de árvores, construções históricas, estátuas humanas, vendedores de flores e turistas, muitos turistas. Um lindo e quente dia de sol numa cidade maravilhosa faz a gente destruir a sola do pé. Passeamos nas Ramblas incluindo a da Catalunha e no Passeig de Gracia. O conjunto do que encontramos pelo caminho correspondeu a tudo o que imaginávamos de uma cidade européia.

Gaudi é demais
O povo é lindo, as meninas são ousadas e charmosas, com graciosos cabelos repicados. Fiquei emocionada com a criatividade das obras de Gaudi (La Pedrera e Casa Batlô). Entramos no La Pedrera e pudemos conhecer um apartamento mobiliado, decorado e projetado pelo gênio Gaudi. Do piso, aos móveis até os puxadores das portas foram projetados por ele inspirado em formas da natureza e do corpo humano. O apartamento era enorme cheio de sacadas e janelas, tinha até quarto de passar roupa, nossa atual área de serviço, só que bem mais espaçosa. No final da manhã chegamos no Mercado Público, La Boqueria (mercado de St. Joseph). Nunca vi frutas e peixes dispostos de forma tão ornamental, tão perfeitos e com preço tão caro. Acabamos voltando lá para comer uma macedônia, a salada de frutas deles, e tomar um delicioso suco de coco com abacaxi. Voltei comendo pão pela rua como o povo de lá costuma fazer. E eu, Amberson, acabei lamentando não ter comprado o fascinante açafrão Espanhol imaginando poder encontrá-lo e algum outro lugar.
Ao final das Ramblas encontramos o mar e a quantidade de embarcações no Porto deixa a orla linda. Construções, esculturas, pontes e até um shopping. Para fechar o dia com o que restava de energia fomos a Praça da Espanha. Novo espetáculo. Duas torres marcam o início da avenida Rainha Maria Cristina, que vai dar num lindo castelo que foi transformado no Museu Nacional de Arte de Barcelona. Antes do Castelo há um chafariz com águas mágicas que funciona das 19 às 21 horas. Resultado, voltamos lá à noite para ver o show das águas. O cansaço era grande, mas a empolgação era maior. À noite tentamos entrar no Hard Rock Café, não deu, a fila era de uma hora, mas aproveitamos para comprar camisetas para as meninas e para conversar com o vendedor brasileiro, que está morando em Barcelona há um mês. Eu, Amberson, vi essa ida breve ao hard rock diferentemente. Enquanto ela fazia as compras entrei, assisti uma parte de um partida de futebol entre o Barcelona e o Milan, que passava em um enorme telão tirei fotos e foi como tivesse ficado lá pelo tempo suficiente.

Em troca de uma moeda
Só tirei uma foto de uma pessoa pedindo esmola na entrada da Catedral, mas na Europa há pessoas pedindo nas portas de praticamente todas as igrejas. E nas Ramblas há muitas vestidas de estátua humana, em troca de alguma moeda. Isso porque estávamos, na maior parte do tempo, em locais turísticos de cidades do primeiro mundo, em cenários de tantos filmes e de tanta história
O último dia em Barcelona começou com visita ao Parque Guell, planejado por Gaudi para ser um condomínio fechado, mas acabou ficando tão lindo que só duas casas foram construídas, uma delas a casa do próprio Gaudi, projetada por um colega seu. Impensável imaginar todos aqueles jardins, esculturas, mosaicos e recantos inusitados para o desfruto de poucos. A quantidade de pessoas que passeava pelo Parque era muito grande, não imagino como possa ficar esta cidade na alta temporada. Ainda no Parque compramos lembrancinhas da viagem e vimos um instrumento redondo, aparentemente indiano, do qual era possível tirar todas as notas, parecia um fundo de panela Yok, dessas de fazer comida chinesa, mas o som era reconfortante. Passavam por nós legiões de turistas bastante idosos. Todos esses grupos possuíam guias, também bem idosos, que usavam objetos inusitados para se destacar na paisagem e serem vistos por todos os que deviam segui-los. Alguns usavam um guarda-chuva aberto bem levantado, outros uma vareta com quase dois metros de altura com uma flor na ponta, ou uma escultura de esponja bem colorida.
Depois do Parque, mais metrô para chegarmos ao estádio do Barcelona. O passeio pelo Camp Nou é totalmente organizado. A parte histórica é linda, com vídeos, maravilhosas fotos, esculturas, cenários, publicações em ordem cronológica. Até móveis da antiga bilheteria, dos vestiários, uniformes e chuteiras nada ergonômicas. Os fundadores do Barça defendiam o ideário Catalão de independência em relação à Espanha. Nunca pensei que um time de futebol pudesse ter sua história ligada a um projeto político. As fotos históricos em imensos murais mesclavam grandes imagens, com algumas minúsculas encaixadas de um jeito que eu nunca tinha visto. Nelas os homens apareciam no estádio de terno, gravata e chapéu, enquanto as senhoras destacavam-se em seus delicados vestidos com chapeuzinhos.

Castanholas e violão
Nesta noite fomos numa apresentação de música Flamenca. Foi mais uma das tantas surpresas que o meu gatinho planejou, nas tantas horas em que ficou estudando esta viagem. Que organização! Aguardávamos em frente ao prédio quando um rapaz uniformizado começou a chamar os nomes pela ordem em que as reservas tinham sido feitas. Foi lindo. Tinha até um "Antônio Banderas" quando era novinho. Os músicos fizeram miséria em solos de violão emocionantes. Muito sapateado, sangria, vestidos coloridos, chalés, flores no cabelo, dança flamenca e moças lindas num salão antigo. Terminamos o dia dando uma volta nas Ramblas, que à noite ficam lindas, cheia de gente caminhando. O clima estava agradável, apesar das ameaças, praticamente não choveu para nossa sorte.
Ao final deste dia senti uma tristezinha. Em apenas três dias já nos sentíamos parte da cidade, familiarizados com o metrô e sabendo que tapes são os petiscos aqui na Espanha. Mas era preciso partir, essa era apenas a primeira de tantas outras cidades que visitaríamos durante esta viagem.

Madri
Dia 04/10/2007
A luminosidade do fim de tarde deixou a Plaza Maior de Madri ainda mais linda. Estava friozinho e ficamos até o anoitecer apreciando as luzes, sons e imagens da Praça se transformando à medida que o sol se punha e a temperatura caía.
No segundo dia não conseguimos acordar muito cedo, estávamos todos doloridos e tomamos um anti-inflamatório para enfrentar nosso primeiro dia em Madri. O gatinho comprou um hidratante para massagearmos os castigados pés e pernas à noite. O quarto e o Hotel em Madri eram ótimos.
O dia amanheceu lindo, acompanhamos pela TV que uma frente fria traria chuva para Barcelona. Isso é que é sorte! Começamos nosso roteiro pelo Museu do Prado. A toda hora acontecia algo que nos mostrava a importância de conhecer outros idiomas. Estávamos na longa fila para entrar no museu quando uma funcionária do local perguntou quem falava espanhol, diante da nossa resposta afirmativa ela avisou que havia uma outra entrada, do outro lado em que não havia fila alguma. Enquanto os americanos e japoneses ficaram sem entender nada, nós e mais alguns sabedores da informação fomos em direção à outra entrada.

Calamares no pão
Difícil falar das emoções que nos provocaram aquele ambiente tão clássico, com obras da época em que o Brasil era a feliz e intocada nação tupi guarani. Em locais como este é que sentimos o quão é jovem o nosso país. O quadro, As Meninas, de Velásquez, foi talvez o que mais nos tocou. Havíamos lido alguns detalhes sobre a produção desta obra, mas vê-la em tamanho natural, ocupando uma parede inteira, numa construção que deveria ter uns cinco metros de altura, foi indescritível. Depois do museu visitamos o jardim botânico, pagando alguns euros, como em quase tudo por aqui.
Neste dia, nosso almoço foi um sanduíche calamares, que são fartos anéis de lula a milaneza dentro de uma baguete. Aí nós descobrimos que na Espanha as pessoas precisam definir antes se vão comer no local ou simplesmente sair comendo o seu pedido. Como felizes turistas fomos até o balcão olhar as opções, o que já tinha pronto, os nomes das comidas, as fotos e decidimos experimentar o sanduíche calamares, afinal estávamos no El Brilhante, cuja especialidade era essa. Pegamos nossa baguete e uma coca e vimos diversas mesinhas do lado de fora, convidativas. Olhamos juntos para uma das mesas e decidimos sentar para saborear nosso lanche. Nem deu tempo de puxar totalmente a cadeira e um garçom já falava aos gritos que não podíamos sentar, que tínhamos escolhido o lanche no balcão e isso só nos dava o direito de levar para comer em qualquer outro local, menos ali – "Se é para llevar é para llevar". Depois ficamos sabendo que na Europa há um preço para quem faz o seu pedido no balcão e quem senta numa mesa e chama um garçom. Até tem sua lógica, mas daí a gritar com as pessoas, principalmente numa cidade turística, que recebe povo de todo mundo e aos montes. Bem, naquele dia haviam muitos bancos ali perto. Sentamos num deles para saborear nosso sanduíche e digerir a bronca em espanhol.

As meninas estão bem...
No próximo museu, o "Reina Sofia", nós rimos muito com as obras modernas que mais pareciam trabalhinhos da Camila quando estava no maternal, mas também lá pudemos apreciar as obras de Picasso, a Guernica além de Goya, Salvador Dali e outros famosos que só conhecíamos dos livros.
Ainda naquele dia visitamos o "Parque del Retiro". Um Parque imenso com um lago que já foi um dia um grande rio onde passavam navegações. O local era muito plano, arborizado, com um monumento imenso onde sentamos para descansar. Foi lá que telefonamos mais uma vez para casa. Nos tranqüilizávamos sabendo que as meninas estavam felizes. Havíamos montado um esquema de rodízio entre a nossa casa com a vó Neuza, a casa do vó Zilda e uma passagem rápida pela Tia Meri, que funcionou muito bem.
Nesta noite jantamos a melhor Merluza de nossas vidas. Durante toda a viagem fugimos dos restaurantes muito próximos dos pontos turísticos, por serem mais caros e terem a pior comida. Funcionou quase sempre bem. Principalmente quando eu desisti de pedir um prato diferente do gato. É incrível o faro do homem para comidas boas. Deve vir dos seus dotes culinários.

Toledo
06/10/2007
No sábado fomos a Toledo. Ainda bem que o Amberson não ligou para minhas reclamações e comprou já no aeroporto de Madri as passagens – 5 dis antes. Na estação de trem, duas brasileiras contaram o tumulto que foi comprar os ingressos ali, no dia anterior.
Toledo parece um imenso cenário de cinema. Esta cidade medieval, que já foi a capital da Espanha, tem ruelinhas charmosas e estreitas, por onde mal passa um carro, construções baixas de pedra ou tijolinho, com sacadinhas minúsculas. As ruas são também revestidas por pedras. Lá conhecemos os mazipãs, que são pãezinhos doces com um toque alcoólico, e vimos armaduras, facas e espadas de todos os tamanhos e modelos. E neste cenário passavam as pessoas que lá viviam. Quando sentamos na praça para descansar vi um grupo em trajes de festa, pareciam ter saído de um casamento e seguiam para o almoço. Incrível imaginar que numa cidade assim mágica viviam pessoas que já não se encantavam mais com aquelas pracinhas minúsculas no tamanho mas imensas na beleza e na riqueza de detalhes.

Que beleza andar de trem
Voltamos da mesma forma que havíamos chegado, de trem. Um confortável e rápido trem que tinha até cafeteria a bordo. Sorte nossa já ter os ingressos do retorno porque a maioria dos horários já estava com a lotação esgotada. E como era linda a estação de trem. Não era de admirar que havia demorado cinco anos para construí-la, entre 1914 e 1919. Havia muitos detalhes para serem apreciados e eram todos de bom gosto.
Ainda neste dia fomos conhecer o imenso palácio do rei da Espanha "Palácio de Almodena". Era tão grande e tão bonito que foi difícil achar sua fachada principal. Nos fundos, havia um lindo jardim, muito clássico, ao lado de uma ampla praça onde muitas pessoas descansavam deitadas na grama, enquanto outras brincavam numa espécie de patinete motorizado, que também era usada pelos policiais. A praça era cercada por barzinhos que estendiam suas lotadas mesas pela praça. Aproveitamos para tomar sorvete naquela ensolarada e quente tarde em Madri.

Os melhores jantares da nossa vida
Neste dia voltamos para o mesmo restaurante da noite anterior e saboreamos a tradicional paella espanhola, por acaso a melhor de nossas vidas. Na saída não resistir a vontade de me despedir, com meu horroroso espanhol, do garçom e do gerente do La Paneda. Eles haviam sido tão simpáticos conosco, algo incomum aqui na Europa. Nos explicaram que o nome do restaurante tinha origem na construção que o povo asturiano tinha nos fundos da casa, mais elevada do solo para evitar a umidade que era grande naquela região e prejudicava a manutenção dos mantimentos. Disse-lhes que a paella tinha sido inesquecível. Não sei se entenderam. Só bem mais tarde ficaríamos sabendo que aquela seria a melhor comida e o melhor atendimento de toda viagem.

Roma
Dia 07/10/2007
Sem dúvida a parte mais cansativa da viagem foram os aeroportos. Todos tão grandes. Saíamos com quatro horas de antecedência, mas as horas voavam até passarmos pelos controles de passaportes, tendo que tirar casaco, cinto, bota e polchete para passar pelo detetor de metais e encontrarmos o portão de embarque. Em Madri tivemos até que passar pelo auto check-in, que é feito numa máquina. O mundo parece nos aeroportos uma verdadeira torre de Babel, com pessoas falando diversos idiomas, vestidas com seus trajes típicos, se movimentando de todos os cantos do mundo.
Até agora não fez muito frio e isso contribui para o sucesso da sistemática de lavação de roupa durante a viagem em que camisetas, meias, calcinhas e cuecas são lavadas na pia do banheiro com o sabão líquido trazido. Durante a noite elas secam no banheiro penduradas nos cabides, que encontramos dentro do guarda-roupa. Durante o dia terminam de secar dentro do próprio guarda-roupa, para não deixar o quarto com jeito de acampamento. E não levarmos mais nenhum pito.

Cara feia e apitaços
Tivemos que ser fortes para não nos contaminarmos e nem nos abalarmos com o mau humor dos italianos, seus apitos, caras feiras e xingões. No Hotel, em Roma, havia uma senhora que apelidamos de "Her Guerda". Ela organizava o buffet do café e servia os pedidos extras, sempre com uma expressão fechada. Estávamos tão felizes que até achávamos engraçado tanto mau humor junto.
Chegamos em Roma no fim de tarde de um domingo quente e cheio de sol. Fomos primeiro ao Coliseu, passamos pela "via dei fiori reale" e ao monumento à Pátria – homenagem a Vitório Emanuelle II, o unificador do país. Foram as construções mais impressionantes que eu já havia visto. As ruas estavam interditadas e a multidão de turistas caminhava feliz. No dia seguinte percorremos os principais pontos turísticos do centro de Roma, incluindo o Capitólio, o Panteon, o foro Romano e o Coliseo por dentro, uma loucura de beleza por todos os lados. Rimos muito ao passar pelo que chamam de "circus maximus", um local que abrigava corridas de bigas na época do império romano. Hoje é apenas uma área ao ar livre, barro e nada de ruínas. Me neguei a fotografar aquilo.

Coca cola com preço de vinho
O Metrô de Roma é antigo e a maioria dos vagões é velha e totalmente grafitada por dentro e por fora. Algumas vezes, as portas não fechavam e era preciso que um funcionário fizesse o travamento manual – com uma porrada. Em compensação as Estações são futuristas, naquele estilo Blade Runner, cheias de televisões de tela plana, avisos eletrônicos e gente de diversas nacionalidades passando com suas malas de rodinhas, como nós durante a chegada.
A comida em Roma é deliciosa e cara. Encontramos em restaurantes pequenos delícias dignas de um bistrô. É claro que os preços são assustadores para quem recebe em Reais e gasta em Euros. Chegamos a pagar E$ 4,00 por uma coca cola. Mas além do preço tem a questão da qualidade. Ainda bem que graças ao ótimo feeling do Amberson para escolher o lugar em que comeríamos, poucas vezes caímos em roubadas. E decidimos que, para não perder muito tempo durante o dia, quanto tínhamos tanto para ver, faríamos um lanche rápido na hora do almoço e deixaríamos para comer algo mais substancioso no jantar. E ainda teve aquele dia inesquecível em que fomos ao supermercado e compramos mortadela Bologna, queijo pecorino e pão e fizemos um delicioso lanche hoteleiro.
Ao conhecer a luxuosa Basílica de São Pedro foi impossível não pensar como tudo aquilo destoava da doutrina Cristã de simplicidade e fraternidade. Talvez por isso, no caminho pelos túmulos dos Papas, os primeiros ostentavam tanta riqueza enquanto o último, o de João Paulo II, era de uma simplicidade acolhedora.

As riquezas do Vaticano
A fila para entrar no museu do Vaticano quase nos afugentou. Mal sabíamos que não estávamos vendo toda a fila! Por conta da ilusão e da vontade de conhecer, principalmente a Capela Cistina, ficamos cerca de uma hora e meia dando voltas num quarteirão. Só posso dizer que valeu à pena! A quantidade de tesouros que pudemos admirar foi incrível! Nem posso calcular quantas coisas poderiam ser feitas se a Igreja Católica investisse uma parte dessa riqueza em projetos de desenvolvimento social e educacional. Bem, pelo visto, no passado a Igreja não enfrentava nenhum problema em acumular riquezas. Cada Papa que assumia chamava pintores famosos para fazer a decoração de seus aposentos. Isso incluía pintar todas as paredes e o teto, além do chão trabalhado em mosaicos com mármores finos. O Museu do Vaticano é organizado de forma que você pode ficar um dia inteiro lá dentro, se conseguir. A quantidade de informação é absurda. Depois entramos numa espécie de caminho que é a meta de todos: a Capela Sistina – nome dado em homenagem ao papa Sisto V. Antes disso, passamos por salas praticamente na penumbra, numa delas vimos a tapeçaria original da Santa Ceia, imensa e já bem desgastada. Depois passamos por corredores exaustivamente decorados onde caminhávamos sem parar, lentamente, sendo levados pela multidão e observados pelos seguranças que não se cansavam de falar "no flashes". Até que finalmente chegamos na Capela. Lá dentro não há lugar para sentar, me concentrei na imagem da mão de Deus alcançando a de Adão e por fim, no altar principal a pintura do juízo final de Leonardo Da Vinci. Tentando levar aquelas cores e formas no meu pensamento, já que ali não são permitidas fotos. E nenhuma foto conseguiria captar a magia daquele local. Enfim, saímos de lá com a cabeça transbordando de imagens e o corpo se arrastando.
Do lado de dos museus do Vaticano vi uma cena que me impressionou. Havia uma fila de vendedores de produtos falsificados, eram dezenas, um do lado do outro, todos negros. Seus produtos ficavam sobre panos que tinham as pontas presas por cordas que permitiam que tudo pudesse ser rapidamente recolhido no caso de algum policial aparecer. Depois a cena repetiu-se diversas vezes em outras cidades sempre com os mesmos produtos e os mesmos rostos negros

Firenze
Dia 10/10/2007
A ida para Firenze de trem foi deliciosa. Aproveitei aquelas horas para dormir e escrever as anotações que possibilitaram que eu fizesse este relato. Quando se viaja de trem a única preocupação é encontrar o binário, que é o número da plataforma de onde o trem sairá. Nada de controle de passaportes, despachar bagagens, check-in, nada disso.
Firenze é menorzinha e pudemos conhecer tudo caminhando. Só na chegada pegamos um táxi para chegar ao Hotel, que era pertinho da Estação de Trem. É claro tudo isso também havia sido planejado pelo gatinho. Já na primeira tarde demos uma volta pelo centro antigo, que é muito charmoso. Novamente ruas muito estreitas e carros minúsculos. Alguns bem pequenos, montados sobre motos, que até pareciam brinquedos.

Perdi minhas pernas
Na manhã seguinte 493 degraus acima nos levaram ao topo da Catedral de Firenze. Esta Igreja você tem que admirar com calma, bem pertinho, para observar detalhes como os nomes de famílias que fizeram doações para a sua construção e anjinhos que mudam a posição das mãos. A riqueza dos detalhes exteriores contrasta com a simplicidade do interior. Mas naquela manhã gastamos o que restava de nossas pernas para admirar a linda vista de Firenze do alto da torre da Catedral.
Depois fomos conhecer o Palácio Pitti que tem uma história interessante. A família Pitti era rival da família Médici que morava no Palácio Vechio. Para mostrar seu poder e riqueza construiu um Palácio maior e mais belo que o da outra família, mas se endividou tanto com a obra que teve que vendê-la para a família Médici. Atrás do Palácio Pitti ficam os lindos jardins de Boboli. Neste dia tivemos que voltar mais cedo para o hotel para tomar um remedinho para a dor nas pernas e descansar.

Pizza
11/10/2007
Como Firenza é bem pequena, aproveitamos para ir à Pisa e nos assustamos: como é inclinada e linda a torre. Ao contrário das outras construções na Itália espremidas no meio de outras, a Torre de Pisa fica ao lado da Catedral e do Batistério num amplo gramado plano – "la piazza dei miracoli". O conjunto dessas construções, tendo um pedaço de uma muralha ao fundo, num lindo dia de sol era encantador. Muita gente admirava tudo isso deitada na grama ou ainda faziam a pose com a mão para o lado, para na foto parecer que seguravam a Torre. Era nosso 13º dia na Europa. Nem acreditava que eu estava li, em frente à Torre de Pisa, com todo aquele povo de diversas partes do mundo ao meu redor. Na foto, não havia ângulo que mostrasse o quanto ela era inclinada! Precisava me beliscar!
Enquanto eu escrevia e descansava o gatinho comprava entradas para visitarmos a Catedral. Aqui temos que pagar para entrar em quase tudo. Até há máquinas nas igrejas que, em troca de moedas, repassam imagens e dados sobre a história do local. Aqui também cada Igreja é um museu, com quadros imensos, muitas esculturas e vários altares. Nelas, grupos de turistas cercam guias que repassam explicações em diversos idiomas. Algumas vezes paramos para escutar um pouco e nos assustar com a quantidade de detalhes históricos. Aproveitávamos as noites para ler um pouco sobre o local que visitaríamos no dia seguinte. Às vezes fazíamos isso no trem, ou na rua, porque sem informação a gente pode olhar e não ver, ver e não saber a importância daquele local.

Sempre com fome
As vitrines das padarias aqui são lindas, os doces são maravilhosos, mas o melhor de tudo são os sorvetes. Eu que não ligo muito para eles, aqui me esbaldei nos frutti di bosco e pana, que aqui é nata. Terminamos nosso dia comprando lembrancinhas na feirinha de Firenze. Também aproveitamos para comprar beliscos num armazém, que aqui ficam meio escondidos. Segundo o Amberson faz parte da estratégia local para obrigar os turistas a gastarem nas lanchonetes. Escondemos nossas compras na mochila porque aqui não se pode comer no quarto, a não ser que você seja bem discreto, disponha o lanche sobre uma toalha e depois recolha todo o lixinho num saquinho que só é jogado numa lixeira fora do hotel.

Lucca
13/10/2007
Fomos a Lucca no sábado. É uma pequena cidade cercada por muralhas, que atualmente são arborizadas, perfeitas para as pessoas caminharem ou pedalarem, sozinhas ou com seus cachorros, ou ainda com seus bebês. Foi inusitado ver homens de terno e senhoras elegantemente vestidas e penteadas passando com suas antigas bicicletas para os seus compromissos. Na praça Napoleão compramos tarequinhos doces com essência de aniz que são vendidos em sacos compridos. Também tomamos sorvete que aqui era mais barato.
Pudemos sentir nas três horas que passamos em Luca a tranqüilidade de uma cidade do interior da Itália. O gatinho até entrou numa espécie de mercearia para comprar fungui Porcini, que no Brasil é muito caro. Na volta para a estação de trem vimos que era possível dar um pulinho em Viareggio, um famoso balneário Italiano. É claro que isso também não aconteceu por acaso.

Viareggio
13/10/2007
Como era outono e chegamos no horário da sesta, quase tudo estava fechado nas proximidades da Estação de Trem. Acertamos a rua e, numa caminhada em linha reta, chegamos na praia. Não estava quente, apesar do lindo sol daquele fim de manhã. Tiramos os tênis e as meias e nossos pés brancos pisaram a areia morna de Viareggio. Outros turistas vestidos, como nós, pegavam sol. Só um casal corajoso se arriscava a mergulhar nas águas frias do mar Tirreno. No Balneário não havia prédios altos, nem mansões à beira mar, só construções de até três andares coladas umas nas outras. A faixa de areia era ampla, mas a sua cor não era tão clarinha quanto a das nossas praias. Pela quantidade de barzinhos fechados na praia deu para imaginar deve ser grande durante a temporada.
Na volta, fugimos do calçadão à beira-mar para encontrar um local para comer. Foi assim que encontramos o simpático local onde a dona interrompeu o almoço com sua mãe para nos servir as cervejas, não muito geladas, e os cadápios. Isso aconteceu durante toda a viagem: café não muito quente e cervejas não muito frias. Quando terminamos de comer a lazanha já eram quatro horas da tarde.

Banheirinho esquizito
Antes de pegar novamente o trem demos mais uma telefonada para as meninas. Novamente nos tranqüilizamos ao saber que estavam bem e felizes.
Na Estação de Lucca conheci um banheiro novinho que só tinha um furo no chão e dois locais para colocar os pés. Estava limpo, mas eu tinha tantas coisas penduradas em mim que foi impossível usá-lo. O que leva alguém a instalar um banheiro desses? A facilidade de manutenção?
Chegamos a Firenze bem cansados mas ainda conseguimos sair para comer a pizza fina da Itália com "birra a la spina", que aqui é chopp. Eu aproveitei para experimentar uma de abobrinha porque aqui a pizza é individual, do tamanho de um prato raso, com a massa e o recheio bem finos. Bem que tentamos dividir uma, em Roma, mas não foi suficiente.
Escrevo este relato, confortavelmente instalada na poltrona nº 43, de primeira classe, do trem que está nos levando à Veneza. É muito lindo, com seus assentos em vermelho e forração em tons de cinza. Atendentes passam servindo água e café e eu reclinei minha poltrona para dormir um pouco. O gatinho está na minha frente super-feliz com a deliciosa viajem que estamos fazendo.

Veneza
14/10/2007
O Tizziano foi eleito por nós o melhor hotel da viagem e Veneza a cidade mais interessante. Ainda não chegamos à Milão, a cidade que fará a ponte para o nosso regresso. Segundo o Amberson, parodiando o poeta, as cidades feias que me desculpem, mas Veneza é fundamental.
Em Veneza deixamos uma das malas na Estação de Trem para nos movimentarmos melhor pelas calçadas e pontes que nos levariam ao Tizziano. Já havíamos organizado as malas para isso, e assim ficou mais fácil seguir o mapa, atravessar diversas e pequeninas pontes e ruelas encantadoras para chegar ao hotel em mais um ensolarado fim de tarde. Guarda-chuva e capas voltaram intactos.
O Hotel parecia saído de uma comédia, em que a dona dormia no quarto ao lado com sua cadelinha. Ela mesma preparava e servia o café e um dia nos entregou a chave da porta, pois iria sair naquela noite e não haveria ninguém na recepção. Era uma senhora delicada de cabelos brancos não muito curtos e poucas palavras. Foi gentil todas as vezes que falou conosco e elogiou o italiano falado pelo gatinho.

Muito passeio de vaporeto
Como tudo em Veneza, o Tizziano era pequeno, mas super charmoso, com louças delicadas, lustres com flores e móveis pintados à mão. Todas as construções aqui têm até quatro andares e misturam vários estilos arquitetônicos. A essa mistura deu-se o nome Veneziano.
No outro dia, pela manhã, compramos passes de 12 horas para andar nos vaporetos, que são os ônibus de Veneza. Não tive vontade de passear na gôndola, ou nos táxis, que são lanchas. Os japoneses lotavam gôndolas e táxis aos bandos. Os vaporetos são muito confortáveis. Neles há locais sentados em que se pode apreciar a maravilhosa paisagem dos canais e desfrutar da brisa do mar. Os vaporetos entram senhoras com carrinho de bebê, pessoas em cadeiras de rodas, gente carregando mudas de árvores, compras, bicicletas e bandos de turistas embasbacados com a beleza da cidade. As estações de embarque são flutuantes e balançam bastante, mas os vaporetos nunca demoram a passar. Na entrada fica um marinheiro pedindo a todos para liberarem a passagem e darem um passinho à frente. Algumas coisas não mudam em nenhuma parte do mundo. Que bom!
Fomos de vaporeto até a "Piazza San Marco". É surpreendente o conjunto formado pelo "Palazzo Ducalle", a ponte dos suspiros, a Catedral de San Marco, o relógio com a horas, fases da lua, signos, mapas das estrelas e esculturas que batem o sino quando muda hora, e ainda grandes construções que abriga restaurantes dos cafés mais caros do mundo, cada um com a sua própria orquestra e, não podemos esquecer, milhares de pombos. São tantos que você nem precisa comprar comida para que eles pousem em você para uma foto rápida. O estilo arquitetônico tem muita influência árabe. Os traços arquitetônicos da catedral de San Marco mais parecem os de uma mesquita. Realmente ela é bem diferente das outras, bem escura, cheia de detalhes dourados discretos, o chão todo em mosaico, com trechos já bem afetados pelo tempo.

Mais pizza com coca
Neste primeiro dia andamos muito de vaporeto pelo Canal Grande e outras partes nos entusiasmando com os palacetes construídos pelos ricos mercadores que moravam em Veneza. Passamos pelo Rialto, que é o centrinho da cidade histórica, com a sua ponte cheia de lojinhas dos dois lados. Ali perto, com os pés balançando sob o mar, paramos para comer um pedaço de pizza com coca-cola, ao lado de outros turistas e de uma gaivota que nem se incomodava com a nossa presença. Aqui eles vendem pizza em pedaço ou fatia – "al talho". Esse tem sido nosso almoço na maior parte dos dias.
Não conseguimos evitar mais um pic-nic no quarto, em Veneza, com queijo pecorino, mortadela com pistache, sprite e bolacha salgada como maionese. Uma delícia! Com as horas finais do nosso passe, voltamos à noite à Praça para vê-la iluminada. Uma das orquestras dos cafés deu um show interpretando canções espanholas com perfeição e entusiasmo. O povo que assistia do lado de fora das mesas aplaudiu animado. Na Praça San Marco não se pode comer, beber, sentar, nadar no canal, mas a grande maioria faz que não vê a grande lista do que é "vietato", ou seja proibido. Nem daria!

É muita foto, é tudo muito lindo
No outro dia compramos outros passes e fomos conhecer na ilha de San Giorgio a igreja de San Nicolau, que realmente tem a mais bela vista de Veneza. Pena que nossa máquina havia ficado no hotel. Estávamos com nossa quota no cartão de memória praticamente esgotada. Em Veneza é impossível não se fotografar muito. Também conhecemos o Palácio Ducalle por dentro, antes da pizza do almoço.
Apesar de já estarmos um pouco cansados de museus, esse foi muito lindo e interessante. Aqui conhecemos a prisão de Veneza, conhecida por ser de alta segurança. Agora as celas estão limpas e bem mais iluminadas que estavam na época em que Casanova conseguiu escapar. Passamos também pelas salas onde se reuniam os membros do Senado, do Conselho de Representantes do Povo, que hoje eqüivaleria ao Câmara dos Deputados e onde morava do Dodge, que era uma espécie de presidente eleito de forma indireta, algo muito avançado para a época. Pelo menos para o povo ficava explícito que só os negociantes ricos e a nobreza tinham assento no Conselho, que chegou a ter dois mil membros. Talvez por isso o chão tenha afundado em vários pontos. As salas são de um luxo extremo, com muitos ornamentos, detalhes dourados e pinturas em todas as paredes e teto.

Saindo do planejamento
Nesta tarde fomos à pequenina ilha de Murano. Sem qualquer planejamento saímos passeando de vaporeto na tarde ensolarada e vimos que ele saía do canal em direção às outras pequenas ilhas próximas e decidimos nos deixar levar. Foi ótimo! Na ilha ficam os fabricantes dos famosos cristais de murano, de microscópicos brinquinhos à grandiosas esculturas. Eles foram retirados de Veneza, pois o risco de um incêndio durante a fabricação das peças é grande. Nosso cartão de crédito não autorizaria a compra das peças de decoração, mas deu para levar algumas lembrançinhas. Eu ganhei um lindo colar com uma estrelinha.
Apreciamos o último pôr do sol em Veneza às margens do Canal. Neste momento meu gatinho chegou ao auge do romantismo e comprou uma rosa pra mim. Foi lindo!

Milão
17/10/2007
No primeiro dia em Milão eu estava esgotada. Chegamos ao hotel no início da tarde, largamos as malas e fomos conhecer a Catedral e a famosa Galeria Vitório Emanuelle. Passamos em frente ao Teatro Scala e vimos o cartaz do Ballet Lê Parc, para o qual tínhamos dois ingressos para a noite de estréia, no dia seguinte. Não deu pra fazer mais nada eu estava absolutamente travada. Comemos um sanduíche do MacDonald’s e fomos descansar no hotel. Ainda naquele dia, à noite, voltamos ao Mac para saborear uma salada deliciosa, com lascas de atum e tomatitos, que ainda não vende por aqui.
Milão era bem diferente de tudo o que havíamos visto. Era uma metrópole imensa, onde o metrô tem diversas saídas na mesma estação e o trânsito é uma loucura mesmo depois das 23 horas. Aqui as pessoas andam pelas ruas vestidas nos nossos trajes de festa. Fizemos o mesmo antes de ir para o Balé. Arrumadinhos passeamos pela Galeria Vitório Emanuelle II como típicos cidadãos Milaneses. Pensei que não saberia mais usar um sapato de salto depois de 20 dias andando de tênis.

Música no metrô
No metrô de Milão vimos um oriental tocando um instrumento inédito. Muitos outros músicos apresentam-se dentro dos corredores das estações de metrô a espera de alguma moeda. Em Barcelona, um garoto cantava e tocava lindamente uma música americana. O gato, que entende bastante de afinação e ritmo, disse que ele era muito bom. Sua voz era linda! Aqui na Europa encontramos muitas mulheres pedindo moedas. Sempre eram mulheres ajoelhadas com as mãos em posição de oração encostadas no chão e a cabeça baixa sob as mãos. Não imagino como conseguem ficar naquela posição tanto tempo.
No outro dia fomos conhecer um Passeio Público que fica no centro de Milão. Lá vimos, pela primeira vez, um "personal trainner" mais idoso acompanhando o treinamento de outro idoso. E também vimos moças elegantes com bolsa e salto alto indo para o trabalho em suas bicicletas. Depois fomos conhecer o Castelo Sforzesco a partir do qual começou o povoamento de Milão. Era enorme, cercado por muralhas e o clássico fosso, além do lindo jardim nos fundos. Todas as suas ruas principais da cidade partem dele em forma circular, como pudemos comprovar pelo mapa da organização urbanística. Não tivemos condições de visitar o museu do Castelo.

O amor é lindo
Milão será lembrada como a cidade em que vimos o Ballet Lê Parc. Meu marido sabia que no fim da viagem estaríamos muito cansados e não haveria muitos atrativos em Milão, depois de tudo o que a antecedeu. Então passou a pesquisar alguma opção no Teatro alla Scala. Viu que nossa única possibilidade era a noite de estréia do Lê Parc, concorridíssima. Mas ele não é de se abalar com obstáculos. Às 9 horas, em Milão, do dia em que começaram as vendas dos ingressos, meu gatinho entrou na Internet, eram 4 horas da manhã no Brasil, e conseguiu dois dos 135 últimos. Quando acordei ele me mostrou a sua conquista impressa numa folha A4. Semanas depois vieram pelo correio, num lindo envelope, com um mapa do teatro e outras explicações.
O Balé era sobre o amor, sobre os relacionamentos, suas idas e vindas. O figurino e as coreografias alternavam o clássico com o moderno até que ambos se confundiam. Nada de sapatilhas, nem saias de tule. Na apresentação final, a bailarina se despe do vestido longo e luxuoso e só de camisola se entrega ao seu amor. Ele também se livra da sua roupa de época, sapatos de fivela e de blusão entreaberto e bermuda desfiada dançam descalços. Beijam-se rodopiando uma eternidade. Ela parecia flutuar ligada a ele ao som de Mozart. Foi o auge da emoção. A inglesa que sentou ao nosso lado já havia visto a estréia em Paris e estava ali para revê-lo. Ela tinha se encantado com a coreografia inovadora que fazia citação até ao amor entre pessoas do mesmo sexo.

Estourando o limite do cartão
Terminamos a noite atolando o pé na jaca num delicioso jantar no hotel. No outro dia chegamos a perder o horário do café da manhã, coisa que nunca tinha acontecido conosco. Novamente o Mac nos salvou com seu café e seus doces, coisa que não servem no Brasil.
Antes de iniciarmos nossa maratona de 24 horas para retornarmos ao Brasil ainda demos uma última caminhada pelas ruas de Milão. Estávamos muito cansados quando vimos pela janela do avião que o sol já havia se posto na Europa, mas ainda brilhava em direção à América. Era exatamente isso! Tudo o que movia nossos corações era reencontrar as luzes das nossas vidas
Ah! Antes que eu me esqueça, na divisão das tarefas da viagem fiquei encarregada de fazer este relato, para mostrar para a posteridade como dois manezinhos podem se virar bem no primeiro mundo.


Poesias


Espanholas
Como são lindas as Espanholas,
com seus cabelos repicados e lenços coloridos no pescoço.
Passam por mim com seu caminhar elegante
usando tênis e saias de todos os tamanhos.
Não são muito miúdas, nem muito fartas,
mas adoram um vestido colorido,
combinando impecavelmente com o sapato.
Essas moças fazem a unha dentro do metrô
e lêem nas filas
e não dispensam um piercing.
Elas passam tão descontraídas por mim,
nem imaginam,
que são observadas atentamente.

Despedida
Com um triste olhar me despedi de cada estação.
Tentei empurrar na mochila um pedacinho de cada céu
de cada porto,
mas os aromas não couberam.
E as lindas paisagens que passaram por mim
Também ficaram naquelas ruas estreitas e coloridas.
Minh’alma, indiferente à distância,
divertia-se com os outros idiomas,
alimentava-se daquela fuga,
sem remorsos, nem saudades.
Viajar é viver plenamente.

Veneza
Veneza nos recebeu com lufadas de brisa,
repleta de aromas do mar.
Veneza nos embalou com carinho por seus caminhos de água
e nos encantou os sentidos com suas sacadas coloridas,
seu pôr do sol tranqüilo,
o ir e vir das embarcações.
Em Veneza não há quem resista à tentação de entregar uma rosa ao seu amor

2 comentários:

Pobres & Nojentas disse...

Rô, amei tudo! Ficou lindo o relato, que vontade de viajar!O sol se pondo, ao final, é épico!

Beijos, Mimi

Sara disse...

Eu acho que um dia eu gostaria de fazer uma viagem como essa, mas a verdade é que eu estou olhando agora preocupado alguns Seleção exclusiva de apartamentos em Buenos Aires